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Arqueólogos da Espaço foram até São Francisco do Sul para realizar avaliação.

A equipe da Espaço Arqueologia executou no mês de novembro de 2023 o projeto de Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico sobre uma área de extração de areia, no município de São Francisco do Sul. A área é característica das planícies sedimentares do litoral catarinense e está localizada nas imediações do canal do Linguado.

Estudos arqueológicos demonstram que as planícies litorâneas de Santa Catarina vêm sendo ininterruptamente ocupadas há, pelo menos, 6 mil anos. Ao longo desse tempo, diferentes povos, culturas e sociedades desenvolveram seu modo de vida por meio da vivência, compreensão e apreensão da paisagem que caracteriza a região.

Caracterizam o processo de ocupação no período pré-colonial os sítios arqueológicos do tipo sambaqui (monumentos e assentamentos construídos com conchas) e os sítios em que são encontrados vestígios cerâmicos associados aos povos Jê Meridionais e Guarani.

No litoral norte de Santa Catarina, mais especificamente na região da Baía da Babitonga, os sambaquis assumem certo protagonismo nos estudos arqueológicos, dada sua monumentalidade e seu potencial informativo, no que diz respeito aos estudos de paleopaisagem.

Recentemente, a equipe da Espaço Arqueologia realizou um estudo sobre o sítio arqueológico Monte de Trigo, localizado a poucos quilômetros da área pesquisada no projeto de Avaliação de Impacto de que trata esta matéria. Nesse sítio, a partir do estudo das diferentes camadas que compõe sua estratigrafia, foi possível mapear cronologicamente a sequência de eventos de aumento e diminuição dos níveis de umidade no ambiente desde, aproximadamente, 7 mil anos atrás.

O arqueólogo coordenador de campo, Jedson Francisco Cerezer, doutor em Quaternário, Materiais e Culturas pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Portugal, esclarece que as diferentes camadas de sedimentos identificadas no sambaqui Monte de Trigo evidenciam as variações do clima ao longo dos últimos milênios e, com isso, é possível entender o processo de formação da paisagem local como hoje conhecemos.

Segundo o pesquisador, “para o estudo de Avaliação de Impacto da área de mineração os dados obtidos no sítio Monte de Trigo foram revisitados pois compreender a dinâmica de formação dessas planícies sedimentares é fundamental para estimar o potencial arqueológico da área e inferir quais tipos de contextos arqueológicos podem ser encontrados”. Ainda de acordo com Cerezer, “nas prospecções realizadas na área do empreendimento, foi possível evidenciar até quatro diferentes camadas de sedimento, cada uma registrando uma condição climática distinta e uma situação específica do nível do mar”.

Em complemento, o arqueólogo Alessandro De Bona Mello relata que não foram encontrados vestígios arqueológicos na área pesquisada pois, muito possivelmente, esteve submersa ao longo de maior parte do holoceno. Nas palavras no pesquisador “Ao percorrer o terreno é possível constatar que está e esteve sujeito a inundações por muito tempo e as informações obtidas nos poços-teste confirmam isso. De toda forma, pelo contexto regional, se trata de uma área de alto potencial arqueológico e, por isso, foi sistematicamente investigada”.

Ao fim da pesquisa, toda a área de interesse do empreendimento foi coberta por caminhamentos sistemáticos e foram escavados mais de 210 poços-teste, cuja profundidade variou de 30 a 100 centímetros, condicionada pelo nível do lençol freático.

Jedson Cerezer conclui afirmando que “estudos como esse são fundamentais para que contextos soterrados e até então desconhecidos sejam encontrados e pesquisados. A arqueologia preventiva tem papel fundamental na salvaguarda e desenvolvimento de estudos aprofundados em contextos que, normalmente, não seriam objeto de projetos de investigação.”
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