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Fragmentos do material foram identificados em dois sítios arqueológicos em Araranguá.

Pesquisadores da Espaço Arqueologia escavaram dois sítios arqueológicos em áreas que estão sendo licenciadas para a extração de areia quartzosa no município de Araranguá, mais precisamente no bairro Hercílio Luz. As características dos sítios confirmam se tratar de uma ocupação territorial com cerâmicas classificadas na arqueologia como “Cerâmica Guarani” ou cerâmicas da Tradição arqueológica Tupiguarani.

As escavações evidenciaram, em um dos sítios, três estruturas com manchas de terra preta, que podem ser referentes a um espaço residencial com no mínimo três estruturas edificadas. Segundo o arqueólogo Alessandro De Bona “as manchas de terra preta em sítios com cerâmica guarani são geralmente associadas aos pisos das casas, onde as fogueiras eram usadas na preparação dos alimentos e outras atividades do cotidiano”.

Cerca de mil fragmentos de vasilhas cerâmicas foram escavados cuidadosamente, todos eles tiveram um registro tridimensional com a ajuda de equipamentos e desenhos técnicos. “Esses registros são fundamentais para preservar as informações do contexto arqueológico, permitindo que as análises de laboratório possam complementar os dados de campo, estabelecendo a relação entre os fragmentos e as manchas de terra preta, para com isso inferir interpretações sobre o modo de vida guarani do período pré-colonial brasileiro”, aponta o arqueólogo Raul Novasco.

Diferentes tipos de vasilhas cerâmicas, com tamanhos e caraterísticas muito variadas, eram utilizadas pelos Guarani no período pré-colonial, é o que nos conta o arqueólogo e especialista em cerâmica guarani Jedson Cerezer. Segundo o pesquisador, “os vasilhames tinham as funções de panelas, talhas, copos e tigelas, cada qual com características próprias, morfologias e tratamentos de superfícies”. E completa: “as panelas apesentam a superfície externa finamente trabalhada, formando texturas que recebem o nome de corrugado ou ungulado. Já as talhas e os copos, tem pinturas em cores como o vermelho em fundo branco ou o branco em fundo vermelho, por vezes há detalhes em preto, sempre formando padrões geométricos, sejam em associação com curvas, linhas e pontos”. Veja um vídeo da manufatura da cerâmica guarani corrugada clicando aqui.

Outro ponto abordado pela pesquisa foi a tecnologia de produção, conforme nos conta o arqueólogo Thiago Torquato. “O processo de produção das vasilhas é dividido entre misturar areia na argila para formar uma pasta, modelar a peça com a sobreposição de rolinhos até atingir o formato desejado” e complementa “depois, as peças ficavam secando à sobra para serem queimadas em estruturas de combustão tipo fogueira, onde a temperatura mínima deveria chegar na casa dos 700/800 graus Celsius”. Depois dessas fases de produção as peças podiam receber algum tipo de tratamento decorativo, como as pinturas, ou serem usadas prontamente, tanto para preparar alimentos ao fogo como para armazenar e servir bebidas. A principal bebida era, segundo documentos etnohistóricos, uma versão especial de “cerveja” - bebida alcoólica que era produzida com a fermentação, sobretudo da mistura de mandioca com água.

Todos os materiais coletados foram acondicionados em embalagens apropriadas para a sua preservação e serão encaminhados a uma instituição de guarda permanente juntamente com os documentos e resultados gerados na investigação.
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